O que aconteceu no Haiti não é de se espantar. Todos – digam-se todos- sabemos que o belo planeta Terra esta simplesmente reagindo ao tratamento de primeira que ele recebe. Quem periodicamente lê os textos que escrevo, percebe as sutilezas nas minhas revoltas internas e a acidez quando falo sobre a ‘momentânea misericórdia humana’.
O que aconteceu é fato, mais de cem mil corpos espalhados entre as ruas cobertas pela poeira dos destroços, crianças chorando com medo do desconhecido ou simplesmente pela ausência dos pais, a típica alegria do povo haitiano se foi, isto não é mutável.
Não acho que seja hora de criticas, julgamentos ou peripécias do jogo político, o momento é simplesmente de compaixão. Compaixão pelo homem que foi trabalhar e perdeu os filhos, compaixão pela mulher que foi ao supermercado só para comprar os ingredientes do almoço, compaixão pela filha que não encontra os corpos dos pais, agora é a hora da piedade.
Venho relutando alguns dias para não pensar sobre a real tragédia e o que foi perdido, contudo é impossível não ser afetada por tal drama, me parte o coração (e olha que é difícil) ver as imagens do que não se tem mais. Imaginar que aquelas pessoas não têm mais um lar, um lugar para chamar de meu. Ponha-se no lugar delas e veja se você faz a sua parte.
É uma hipocrisia exorbitante esse catalisador de doações, o agente da minha irritação é a necessidade de desastre para o mundo voltar seus olhos para inópia. As mudanças precisam ser imediatas.
Deixando a pseudo-revolta um pouco de lado, percebo que a grandiosidade daqui se esvai tão depressa, juntamente com derretimento das calotas polares, do aquecimento infernal e da evolução do câncer. O que mais corrói nosso mundo somos nós.
Eu sei que todo esse discurso ‘salve o planeta terra’ anda na moda. Se você quiser seguir, que ótimo, todos ganham com isso, mas o que valida tudo isso mesmo é a intenção, o querer fazer de coração, ajudar alguém, enxergar no outro a sua imagem. Não se sinta inútil se o que você pode fazer é apenas rezar pelas vitimas do outro lado do mundo, você não será menos solidário se contribuir para uma creche vizinha ou ajudar alguém que acabou de cair.
O importante não é quantas pessoas estão vendo a sua obra, mas sim quantas obras você faz por uma pessoa.
L.